Muitos anos antes da sua morte, um notável rabino, Abraham Joshua Heschel, sofreu um ataque do coração quase fatal.
Seu melhor amigo estava ao lado de seu leito. Heschel estava tão fraco que só conseguiu sussurrar:
- Sam, sou grato pela minha vida, por todos os momentos que vivi. Estou pronto para partir. Vi tantos milagres na minha vida.
O velho rabino ficou esgotado pelo esforço em falar. Depois de uma longa pausa ele disse:
- Sam, nunca na minha vida pedi a Deus sucesso, sabedoria, poder ou fama. Pedi assombro, e ele me concedeu. Pedi assombro, e ele me concedeu. Um burguês sem imaginação irá cutucar o nariz diante de uma pintura de Claude Monet; uma pessoa cheia de assombro ficará ali em pé tentando segurar as lágrimas.
De modo geral, o mundo perdeu o senso de assombro. Crescemos. Já não perdemos o fôlego diante de um arco-íris ou do perfume de uma rosa, como acontecia antes. Ficamos maiores e todo o resto ficou menor, menos impressionante. Tornamo-nos apáticos, sofisticados e cheios da sabedoria do mundo. Não deslizamos mais os dedos sobre a água, não gritamos mais para as estrelas nem fazemos para a lua. Água é H2O, as estrelas foram classificadas e a lua não é feita de queijo.
... hoje cremos que todos os mistérios podem ser resolvidos, e que todo assombro não passa do "efeito que o novo imprime sobre a ignorância". Certamente o novo é capaz de nos impressionar: um ônibus espacial, o jogo mais recente de computador, a fralda mais macia. Até amanhã, até que o novo se torne velho, até que a maravilha de ontem seja descartada ou tomada como coisa certa. Não é de admirar que o rabino Heschel tenha concluído: "À medida que a civilização avança. o senso de assombro declina".
Extraído do livro "O evangelho mal trapilho" de Brennan Manning.
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