E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música. (F. Nietzsche)





sexta-feira, 29 de abril de 2011

Robô dá primeiros sinais de consciência



Com informações da New Scientist - 04/04/2011

Ela ainda não é um robô no sentido comum do termo, porque ainda não tem um corpo.
Mas é o que mais aproxima até hoje daquilo que se poderia chamar de uma "mente robótica".
O programa, projetado para ser usado para animar um robô, conseguiu pela primeira vez completar testes padronizados de avaliação do estado de alerta, ou estado de consciência, no mesmo tempo gasto por humanos.
O nome dessa "consciência robótica" é LIDA, uma sigla para Learning Intelligent Distribution Agent, agente de distribuição inteligente do aprendizado, em tradução livre.
LIDA é filha de Stan Franklin, da Universidade de Memphis, com uma "participação especial" de Bernard Baars, do Instituto de Neurociências de San Diego e Tamas Madl, filósofo da Universidade de Viena, na Áustria.

Funcionamento da mente
O programa foi inspirado por uma teoria bem estabelecida sobre a consciência humana, chamada "Teoria do Espaço de Trabalho Global" (TAG) - ou GWT, sigla do inglês Global Workspace Theory.
Segundo a TAG, o processamento inconsciente - a captura e processamento de imagens e sons, por exemplo - é feito por regiões diferentes e autônomas do cérebro, trabalhando paralelamente.
Nós apenas nos tornaríamos conscientes da informação quando ela é considerada importante o suficiente para ser "transmitida" para o ambiente de trabalho global, uma rede de neurônios interconectados que se espalha por todo o cérebro.
Quem decide o que é importante para ser transmitido a teoria não diz, mas ela afirma que aquilo que experimentamos como consciência é justamente essa "transmissão", que permite que as informações sejam compartilhadas por diferentes áreas do cérebro.
Vários experimentos, usando eletrodos para detectar a atividade cerebral, têm dado suporte a essa noção de difusão das informações pelo cérebro como base da consciência, embora como exatamente a teoria se traduziria em cognição e experiência consciente seja algo ainda longe de estar claro.

Mente robótica
O professor Stan Franklin e seus colegas implementaram a teoria em um programa voltado para o controle de um robô, "enriquecendo" as bases da TAG com hipóteses sobre como esses processos de difusão da informação no cérebro se coordenam.
O resultado foi a mente robótica LIDA, que Franklin acredita ser uma reconstrução do processo de cognição do cérebro humano.
LIDA é uma "mente artificial" inteiramente gerada por software, ao contrário de experimentos de inteligência artificial que procuram replicar os próprios neurônios ou até construir um cérebro em um chip.
O funcionamento de LIDA baseia-se na hipótese de que a consciência é composta de uma série de ciclos, com duração de poucos milissegundos, e cada um subdividido em estágios inconscientes e conscientes.
Entretanto, só porque esses ciclos cognitivos são consistentes com algumas características da consciência humana, como os experimentos demonstram, isso não significa que é assim que a mente humana trabalha.
Foi por isso que os cientistas resolveram colocar a mente robótica para competir com mentes humanas.

Robô consciente?
Mas isto significa que a mente robótica LIDA seja consciente?
"Eu digo que LIDA é funcionalmente consciente," diz Franklin, porque ela usa a difusão dos inputs para guiar suas ações e seu aprendizado.
O pesquisador estabelece uma demarcação clara entre essa consciência funcional e a chamada "consciência fenomênica", ou "consciência fenomenológica", não atribuindo à sua mente robótica uma capacidade de subjetividade.
Mas ele afirma que não há, em princípio, nenhuma razão que impeça que LIDA se torne totalmente consciente um dia: "A arquitetura poderá servir de base para a consciência fenomênica, apenas precisamos descobrir como trazê-la à tona."

 Extraído de: http://www.inovacaotecnologica.com.br

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Novo Homem

O homem será feito em laboratório.
Será tão perfeito como no antigório.
Rirá como gente, beberá cerveja deliciadamente.
Caçará narceja e bicho do mato.
Jogará no bicho, tirará retrato com o maior capricho.
Usará bermuda e gola roulée.
Queimará arruda indo ao canjerê,
e do não-objecto fará escultura.
Será neoconcreto se houver censura.
Ganhará dinheiro e muitos diplomas,
fino cavalheiro em noventa idiomas.
Chegará a Marte em seu cavalinho
de ir a toda parte mesmo sem caminho.
O homem será feito em laboratório
muito mais perfeito do que no antigório.
Dispensa-se amor, ternura ou desejo.
Seja como for (até num bocejo) salta da retorta
um senhor garoto.
Vai abrindo a porta com riso maroto:
«Nove meses, eu? Nem nove minutos.»
Quem já concebeu melhores produtos?
A dor não preside sua gestação.
Seu nascer elide o sonho e a aflição.
Nascerá bonito? Corpo bem talhado?
Claro: não é mito, é planificado.
Nele, tudo exacto, medido, bem posto: o justo formato,
o standard do rosto.
Duzentos modelos, todos atraentes.
(Escolher, ao vê-los, nossos descendentes.)
Quer um sábio? Peça.
Ministro? Encomende.
Uma ficha impressa a todos atende.
Perdão: acabou-se a época dos pais.
Quem comia doce já não come mais.
Não chame de filho este ser diverso que pisa o ladrilho
de outro universo.
Sua independência é total: sem marca
de família, vence a lei do patriarca.
Liberto da herança de sangue ou de afecto, desconhece a aliança
de avô com seu neto.
Pai: macromolécula;
mãe: tubo de ensaio,
e, per omnia secula, livre, papagaio, sem memória e sexo,
feliz, por que não?
pois rompeu o nexo da velha Criação, eis que o homem feito
em laboratório sem qualquer defeito como no antigório,
acabou com o Homem.
 Bem feito.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Versiprosa'

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